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Consumidor compra menos pressionado pela inflação e corte na renda

30 de julho de 2021
 - 
17:01
 - 
Bruno Marcon
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GPA registra queda de 12% nas vendas brutas e o concorrente Carrefour encolhe 7%

Após a forte onda de consumo em 2020, supermercados e hipermercados vêm registrando queda nas vendas desde maio, reflexo não só da base forte de comparação, mas do aperto na renda e da pressão inflacionária ainda em patamares altos. O GPA, dono do Extra e Pão de Açúcar, teve queda de 12,1% nas vendas brutas no país de abril a junho sobre o ano anterior – recuo mais forte que o projetado por alguns analistas. O Carrefour encolheu 7,3%.

O setor estima voltar a crescer a partir de setembro ou outubro. Para atrair mais tráfego às lojas, há um aumento nas promoções.

Mesmo com essas pressões, que deveriam limitar reajustes de preços, grandes e médias cadeias vêm relatando novos pedidos de aumentos da indústria, em itens que até então, não sentiam tanto a recente escalada nos preços.

O mercado já esperava uma queda nas vendas por causa dos números fortes de 2020, mas chama a atenção a intensidade em certos casos. “Há de fato uma redução de consumo. Calculamos uma retração de 10% nas vendas dos supermercados de janeiro a junho em São Paulo, sendo que 8% vêm do ‘efeito covid’, da base de comparação, e 2% de efeitos macroeconômico que puxam isso mais para baixo”, disse Rodrigo Mariano, economista da Associação Paulista de Supermercados (APAS).

Nas vendas brutas, em relação a 2019, há uma alta pequena, de um dígito a dois dígitos baixos, a depender da rede, mas em termos nominais. Na comparação com 2019, as vendas brutas do Carrefour (no braço de varejo) avançaram 11% de abril a junho (sem descontar a escalada da inflação no intervalo). No GPA, há recuo de 0,2%.

Na rede Hirota Food, as vendas caem desde maio, e em junho, o recuo foi de 7% sobre 2020. Sobre 2019, há aumento de 5%. Apesar disso, o desempenho sobre 2019 não vem sendo comemorado. “Quando se foi tão bem, como em 2020, a queda agora não é fácil. E há uma preocupação com o desempenho daqui para frente”, afirma Helio Freddi Filho, gerente geral do Hirota Food.

“Há menos dinheiro circulando e sentimos isso. O auxílio emergencial veio bem menor neste ano e há a reabertura de restaurantes que também nos impacta. Após um 2020 maravilhoso, ficamos mal-acostumados”, diz. “Estamos lançando ofertas novas e não interrompemos os investimentos porque acreditamos que é uma fase ruim, e a venda deve ir voltando”.

Especialistas reforçam a necessidade de avaliar a situação de cada cadeia, frente à média, e o prazo de duração estimado para essa fase. “Em São Paulo, achamos que esse retorno das vendas pode ser mais rápido que no resto do país, como o Nordeste, que sentiu muito mais a queda do ‘coronavoucher’. Mas em geral, há muitos efeitos negativos conjuntos no setor”, diz Mariano. “Existe uma abertura gradual de restaurantes e ele é um concorrente direto. E há os concorrentes indiretos, como os shoppings que foram reabrindo e, com eles, voltou a demanda de segmentos que ficaram parados em 2020, e agora ‘roubam’ a venda dos supermercados. Não é que há uma super demanda por roupas em shoppings, até porque a renda caiu. Mas um gasto ou outro volta, e isso tudo vai se somando nas projeções de orçamento das famílias”, diz ele. A inflação dentro do lar foi de 15%, em 12 meses até junho, em São Paulo.

Em entrevista ao Valor, o presidente do GPA, Jorge Faiçal, diz que, no segundo trimestre, a rede foi afetada pela queda na renda e pelo aumento do desemprego – além do efeito estatístico da base de 2020. As vendas brutas no país encolheram 12,1% de abril a junho, para R$ 7,1 bilhões, e o lucro líquido diminui de R$ 357 milhões, um ano antes, para R$ 13 milhões.

Ontem, no pregão na B3 após a publicação dos dados, a ação do GPA fechou em queda de 7,4% – a maior do pregão -, puxando outras varejistas para baixo. O papel do Carrefour, que havia divulgado seus dados na terça-feira, recuou 1,54%.

A venda bruta nos supermercados Pão de Açúcar caiu 24,1%, e na rede Extra recuou 13,9%, no segundo trimestre, em relação a igual período de 2020. Os destaques positivos foram o braço de minimercados e o on-line, com alta de 27,7% e 32%, respectivamente. A empresa já identificou retorno das promoções no setor, que tinham desaparecido das gôndolas dos grupos no ano passado, ajudando a “turbinar” as margens.

“Nos últimos seis meses, a inflação se manteve alta e o desemprego bateu em taxas históricas. Nas famílias de classe C, as compras de alimentos atingiram 60%, 70% do ‘share of pocket’ [gasto mensal da família]”, afirma Faiçal. “Ainda houve troca de mercadorias para as mais baratas neste ano e troca de canais, para o atacarejo. Há um abandono de produtos que foram conquistas no passado como iogurte e os sucos de caixinha, e está todo mundo voltando com promoção”, disse.

Analistas entendem que o GPA sentiu mais esse baque do que o Carrefour, mas conseguiu ser mais rentável no trimestre. A margem bruta ficou quase estável (no Carrefour caiu) e a margem Ebitda, que mede lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação, subiu 0,6 pontos no GPA, para 8,3%. No braço de varejo do Carrefour, caiu 1,6 ponto, para 6,5%.

“Nós sentimos um pouco mais [a venda] no trimestre porque tenho um portfólio com loja mais premium [Pão de Açúcar], e também minha venda migrou para o online, onde cresci 32% no trimestre [o Carrefour cresceu 16,4%]”.

O GPA disse que já identificou alguma recuperação na demanda por alimentos nos hipermercados em junho em relação a 2020 e 2019. E projeta para o Pão de Açúcar uma retomada neste ano, porém um pouco mais lenta. Nas lojas de vizinhança, serão 20 aberturas do Minuto Pão de Açúcar em 2021, um número que o grupo ainda não havia divulgado.

O comando do Carrefour levanta razões semelhantes às do GPA para entender seu desempenho. Afirma que, além do efeito da base, precisou absorver impactos da inflação alta e do fechamento de áreas dentro das lojas, por conta de decretos de certos municípios impedindo a venda de itens não essenciais. Mas vê seu desempenho como “satisfatório” ao considerar o ambiente atual.

A respeito das pressões inflacionárias, segundo o Assaí[RPB1] , controlado pelo Casino, e o Atacadão, do grupo Carrefour, os reajustes de preços não se desaceleraram como se previa. “Há uma inflação importante estabilizada, mas há custos dolarizados ainda pressionando. A ideia é ser o último a repassar qualquer coisa”, disse a analistas na quarta-feira, José Roberto Müssnich, presidente do Atacadão.

Era esperada uma desaceleração nessa velocidade de repasses ao longo do primeiro semestre, mas ela não veio como se previa, disse ao Valor, Belmiro Gomes, CEO do Assaí. “A gente esperava uma acomodação maior nos preços. Indústrias de produtos com insumos ligados a dólar, e que não vinham aumentando, agora falam nisso, como itens de limpeza, incluindo sabão em pó e detergentes. Estamos dizendo a eles que não cabe no bolso do consumidor”, afirmou.

Na semana passada, a Unilever disse a analistas que vem reajustando preços de forma “muito forte”, na América Latina, e particulamente no Brasil. A empresa é dona de marcas como Omo, Comfort, Lux e Cif.

Na avaliação das grandes cadeias, a expectativa é que, nos próximos meses, esses repasses aconteçam lentamente, para não afetar mais demanda e, com isso, a recuperação nas vendas vá ganhando um pouco mais de força.

Fonte: Por Adriana Mattos, Valor



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