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Inflação leva brasileiro de volta às compras do mês

13 de março de 2022
 - 
22:48
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Bruno Marcon
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Acelera-se o movimento de troca de produtos e substituição de categorias  

Um cenário de preocupação com a inflação tem levado os consumidores a antecipar as compras nos supermercados para os primeiros dias do mês. O movimento foi constatado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

“Os pagamentos ocorrem até o quinto dia útil. Temos visto movimento muito maior nos primeiros dias do mês. O consumidor está aproveitando o dinheiro que acabou de receber e os preços e ofertas do início do mês. Até porque ele não tem certeza se vai comprar depois no mesmo preço”, disse o vice-presidente da Abras, Marcio Milan, em conversa com jornalistas.

O movimento é um reflexo da memória inflacionária do brasileiro. Nas épocas de inflação descontrolada, Milan disse que até 50% das vendas dos supermercados costumavam acontecer nos primeiros 10 dias do mês.

“Outra coisa que estamos vendo é que o consumidor está indo menos vezes ao mercado”, disse. Milan, entretanto, explicou que não é possível cravar que essa menor ida ao mercado represente uma redução no consumo. “Hoje ele [cliente] tem outras alternativas que não tinha no passado, como aplicativos. Estamos medindo esse efeito”, disse.

O consumo nos lares brasileiros apresentou alta de 1,23% em janeiro na comparação com igual mês de 2021, segundo a Abras. A estimativa é que o consumo das famílias suba 2,8% nesse ano. Questionado, Milan disse não esperar uma alteração nesta previsão por agora diante dos conflitos na Ucrânia.

“A gente acredita em uma negociação [na Ucrânia]. E a gente acredita que esse caminho da paz vai chegar. Além disso, acreditamos em outros caminhos, como esforços internos que o país [Brasil] precisa fazer”, disse, apontando a redução dos impostos sobre a cesta básica – cujas conversas já se iniciaram com o governo.

Enquanto essa resolução não chega, o movimento de troca de produtos premium por marcas mais baratas continua ganhando força. No óleo de soja, por exemplo, cerca de 59,4% do faturamento entre janeiro e fevereiro deste ano era de produto de baixo valor. Em igual período de 2021, o percentual era de 54,9%.

Já outro movimento que ganhou força é a troca de carne bovina por ovo, frango e carne suína. Citando dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Milan disse que o consumo de carne bovina entre os brasileiros caiu significativamente desde o início da pandemia e chegou a 26,5 quilos por habitante em 2021, menor volume em 25 anos. Em relação a 2006, quando houve um pico de 42,8 quilos por habitante, o recuo é de quase 40%. Na contramão, cada vez mais ganha espaço o consumo de ovos. Em 2021, foram 255 ovos por habitante. Em 2010, eram 148, número que passou a crescer ano a ano desde então.

Mudança de portfólio

As grandes marcas e redes de supermercados decidiram mexer em seu portfólio, a fim de acompanhar as mudanças no carrinho dos consumidores provocadas pela inflação, há seis meses na casa dos 10%, considerando o acumulado em 12 meses.

As gôndolas passaram a dar destaque a rótulos mais baratos, e muitas vezes desconhecidos, além dos de marca própria. Itens mais acessíveis foram para as prateleiras do alto, à altura dos olhos do comprador, e os mais caros desceram, ou até sumiram.

Basta percorrer alguns mercados para ver a mudança. Em uma rede na Zona Norte do Rio, as tradicionais marcas de sabão em pó deram lugar à linha própria do estabelecimento. O mesmo com alguns tipos de biscoito. Em outra, também na Zona Norte, havia apenas um rótulo de açúcar refinado à disposição.

Pelo lado das empresas, a Nestlé, por exemplo, vem adaptando o tamanho de suas porções, e a P&G criou embalagens maiores, mais econômicas. O Carrefour investiu na marca própria e congelou preços. E a rede paranaense Condor ampliou o mix de produtos mais em conta e tirou das gôndolas vinhos e chocolates que não tinham saída devido ao preço salgado.

Impacto direto

No Rio, mais de 80% dos supermercados substituíram marcas caras por outras que pesam menos no bolso em alimentação, higiene e limpeza, conforme levantamento feito em janeiro pela Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj).

— Há hoje três fatores que apertam a renda dos brasileiros: a inflação, o desemprego e as dívidas. Tudo isso pressiona o consumidor a escolher itens mais baratos — diz Guilherme Mercês, consultor da Asserj. — Isso se reflete diretamente na forma como os produtos são oferecidos e como são dispostos nas gôndolas.

O diretor de Operações da rede paranaense Condor, Maurício Bendixen, explica que cada gôndola de cada mercado é analisada visando melhorar o uso do espaço:

— Fazemos um mix e vamos acompanhando a saída dos produtos. Na pandemia, trouxemos mais os de segunda linha e demos mais espaço para eles nas gôndolas. Chegamos a tirar alguns itens que eram muito caros.

Segundo ele, nos alimentos, os consumidores trocaram até mesmo produtos de alta fidelidade às marcas, como arroz e café. Na limpeza, deram prioridade às embalagens maiores.

A P&G Brasil, por exemplo, lançou a versão de três litros do amaciante Downy.

— Observamos a busca por tamanhos maiores, tendo assim descontos na unidade ou no litro do que é comprado. Isso é notório nas fraldas — conta Marcos Bauer, diretor sênior de Inteligência de Mercado e Desenvolvimento de Categorias da P&G.

O Carrefour não só percebeu a mudança de interesses do consumidor como viu sua marca própria, hoje com mais de 4.500 itens, crescer em produtos antes dominados pelas líderes de mercado. As vendas cresceram 50% nos últimos dois anos e hoje correspondem a quase 20% do total.

Para Allan Hock, diretor de marca própria do Carrefour, é significativo penetrar em categorias antes inimagináveis, com recompra:

— Isso significa que o cliente comprou e gostou. As fraldas e as cápsulas de café da nossa marca vendem mais que as líderes de mercado. Nossa ração para cachorro, que é um mercado com players muito fortes, também cresceu e corresponde a cerca de 20% das vendas da categoria.

O empurrão para seus produtos também vem do congelamento de preços que a empresa fez na pandemia e que pretende retomar neste ano. Hock conta ainda que o Carrefour estuda desenvolver embalagens maiores para produtos comprados em grande quantidade, como limpeza e fraldas, desde que haja redução de custo.

— Estamos levando menos e pagando mais. A compra lá para casa era suficiente para o mês inteiro, e dava uns R$ 700, R$ 800. Agora pago R$ 1,3 mil, R$ 1,5 mil, e com as compras bem menores — conta a aposentada Leonor Silva, de 85 anos, que com um genro sustenta uma família de oito, entre filhos e netos.

Pesquisa mostra trocas

Outra que adaptou o portfólio foi a Bimbo Brasil, dona das marcas Pullman, Plusvita, Nutrella e Ana Maria. Houve desaceleração na venda de itens de maior valor, como pães de forma saudáveis, tortilhas e minibolos, comuns no lanche da escola. Mas cresceu o consumo básico do pão de forma tradicional e dos bolos.

Estudo da consultoria Kantar, exclusivo para O GLOBO, identificou as principais alterações nos carrinhos de compras de 2020 para 2021. Em higiene, beleza e limpeza, a troca de marca é mais recorrente. Para alguns produtos de mercearia doce e bebidas, o consumidor costuma manter suas preferências. Já a carne é substituída.

— Nos itens básicos, que mais têm sofrido impacto da inflação, como farinha, óleo, café e feijão, o consumidor costuma equilibrar entre diminuir o volume ou migrar para marcas mais baratas — ressalta a diretora de Usage da divisão Worldpanel da Kantar, Aurélia Vicente.

Na cesta de compras da diarista Marlene Adão, de 58 anos, a marca tradicional de sabão em pó foi substituída por uma inferior, mais barata. O tomate e a cenoura saíram do cardápio, e carne e legumes, só quando há alguma promoção boa.

— Vou vendo os anúncios na televisão, e conforme vou precisando e o preço está bom, venho ao mercado — desabafa a moradora de Botafogo, na Zona Sul, que vive com marido, filha e neto.

Já a aposentada Maria Ricardina Araújo, de 64 anos, adotou outra estratégia:

— Como moro sozinha, preferi não substituir as marcas de que gosto, mas, se está muito caro, não compro. Na semana passada, por exemplo, o maço do coentro estava a R$ 4. Voltei para casa sem.

Fonte: Valor e Globo


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